sábado, 11 de setembro de 2010

Na fund(ação) das nossas bases: uma narrativa sobre a ocupação da UFCSPA

Tomei a liberdade de escrever um pouco aqui do começo da manifestação pelo CAXXII de março da UFCSPA, o se desfecho e o que se transformou o movimento que pareceu simples, mas tomou proporções gigantescas. 

            Éramos três estudantes do primeiro ano da Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e mais vários veteranos (principalmente do segundo ano). Tudo começou  após uma palestra sobre o movimento estudantil e as palavras do ex-presidente (atual secretário geral) do CAXXII de março da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA – antiga Fundação) que ainda estava (há pelo menos 8 meses se estendia a "lenga-lenga") na luta pela reconquista do seu espaço que foi demolido arbitrariamente sem maiores satisfações da reitoria. A palestra foi no dia 5 (domingo) de setembro dentro do contexto do XV EREM  que, inclusive, estava  com o título ousado de "Procura-se Educação Médica de Qualidade". O Secretário explicou que o CAXXII de março fundando desde 1961 teve uma trajetória marcada  pelas reivindicações de caráter acadêmico e por confundir-se com a própria história da UFCSPA (como a maioria dos CA/DAs atuantes confundem-se com a história da sua universidade).
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            Foram apresentadas a pauta de reivindicações que o CAXXII de março propôs a reitoria, exigindo o comprometimento à: fornecer motivo concreto para a demolição da antiga sede do CA XXII de Março em janeiro de 2010; disponibilizar a planta baixa das construções do anexo 2 e 3 que estão em andamento no campus central, a planta baixa da antiga sede destruída no mês de janeiro de 2010 do CA XXII de Março e também  disponibilizar por escrito o local exato das futuras instalações definitivas do CA XXII de Março, assegurando área mínima igual à metragem da antiga sede; como medida emergencial, disponibilizar espaço imediato com capacidade para a realização de reuniões, com autonomia de horário e controle do espaço por parte dos estudantes, com localização necessariamente dentro do campus central e de fácil acesso, de no mínimo 50m²; e disponibilizar espaço de convivência para os estudantes da UFCSPA, com metragem adequada, cerca de 100m², para propiciar boa integração entre os acadêmicos. Sugerimos o espaço atualmente ocupado pela Capela ou um espaço no Estacionamento do anexo 2; não haver punição a nenhum estudante envolvido nas manifestações realizadas pelo CA XXII de Março.
            Não sei a que ponto isso foi consenso geral, mas nos solidarizamos com questão do CAXXII de março porque a reivindicação deles não está tão distante da nossa, aparentemente ninguém hesitou em apoiá-los. Na noite do dia 5 após a palestra e a apresentação do caso eu e meu colega usamos nossos “dotes” musicais (violão e balde, quem estava presente entenderá) no Sarau do EREM e tocamos madrugada adentro. Pela manhã, nós, três mosqueteiros do primeiro ano, levantamos com os olhos cansados pedindo por mais algumas horas de cama. Mesmo com os olhos cansados, como todos que leram este texto já passaram e assistimos à palestra pela manhã e almoçamos rapidamente.
            Foi combinado que sairíamos às 12h30min do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e caminharíamos até o prédio da reitoria da UFCSPA. Saímos com apenas dois cartazes e muita vontade pelas ruas de Porto Alegre passando (na maioria das vezes) pelos olhares “tortos” das outras pessoas, que arraigaram erroneamente o movimento estudantil à vandalismo. Entoamos canções, batemos palmas (até minhas mãos avermelharem) e em baixo do sol levamos cantos como:

“Quem disse que sumiu aqui quem fala é o movimento estudantil” – estávamos reavivando os nossos corações, ou “Quem são vocês? Somos estudantes. Não escutei! Somos estudantes. Mais uma vez! Sou, sou estudante eu sou, eu quero me organizar, mas sem CA não dá vamos a luta!”


            Entre outras canções vivas em minha memória. No caminho da UFCSPA passamos pelo campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e convidamos outros alunos para participar da manifestação. O coordenador geral da DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) Luís Guilherme de Souza do Diretório Acadêmico Nilo Cairo (DANC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fez o convite no campus da UFRGS da seguinte maneira: ele falava uma frase e repetiam-se todas as nossas vozes em forma de convite, da aproximadamente da seguinte maneira:

LG: - Nós estamos aqui
Todos: - Nós estamos aqui – (e nossas palavras reverberaram pelo campus).
LG: Para reivindicar o direito do Centro Acadêmico XXII de março – e repetíamos – da Fundação a recuperar seu espaço que foi arbitrariamente demolido – e ecoávamos – em uma manifestação pacífica, obrigado – e nossas palavras ficaram ressonando no campus. Alguns bravos estudantes juntaram-se a nossa causa.

            Ao nos aproximarmos da UFCSPA escutamos a bateria da universidade e sinceramente, arrepiei-me. Estávamos começando a juntar nossas forças. Através de um megafone as lideranças coordenavam nossa manifestação, a princípio iria terminar até as 13h30min do dia seis de setembro.
            O coordenador geral da DENEM e o secretário geral do CAXXII de março informaram que iriam tentar um diálogo com a reitoria. Enquanto eles trilhavam o início do nosso caminho, tentávamos pressionar a reitoria com a movimentação lá em baixo. Para quem não sabe a reitoria da UFCSPA se localiza  no quinto andar do prédio de entrada do campus UFCSPA.


            Escutamos novamente a pauta pelo megafone, aplaudimos e seguimos com a nossa entoação. Depois de algum tempo, em uma estreita sintonia com nossas lideranças (sintonia sem usar meios de comunicação), nós que estávamos lá em baixo comelamos a passar pelas roletas da Fundação com a digital e cartões dos alunos que nos conduziam pelo “castelo da REItoria”. Enquanto estávamos lá em baixo o vice-reitor da UFCSPA (a reitora não estava presente) – confortavelmente sentado em seu trono e com espaço para fazer as próprias reuniões – alegava que não receberia os estudantes.
            Se a história acabasse aqui, com certeza, já seria um grande feito para a história da universidade que até então nunca tinha presenciado tal fato. Subimos em estreita sintonia, enquanto nossos porta-vozes continuavam com a porta fechada nos seus narizes (claro, a reunião). Subimos cantando até a torre do quinto andar nas portas da reitoria, às vezes, quando via meus colegas do primeiro ano os olhares passavam de assustados para corajosos.


            Não posso dizer que não temi, mas posso falar que o leão das diversas injustiças não só do CAXXII de março, mas da nossa saúde e das nossas escolas médicas em geral estava bradando em meu peito. Ao chegar no topo da torre do castelo eu já estava sem voz, mas com certeza ainda gritava pela nossa luta engasgada.


            O movimento foi tomando forma e depois de algum tempo pressionando o castelo entramos oficialmente na ala da reitoria, agora a porta do vice-REItor estava a um passo. Sentamos pacificamente em seu corredor, mas ainda continuamos cantando, esperando que o representante da reitoria abandonasse seu conforto.


            Enfim, depois dos primeiros passos parecíamos estar conquistando de fato algo (concreto, o sentimento já estava inundado). O vice-reitor solicitou a presença de 4 “cabeças” para fazerem uma reunião, nesse momento foi perguntando quem se considerava líder da manifestação e instantaneamente todos os alunos presente levantaram a mão e a REItoria teve que dialogar francamente (ou pelo menos era o que esperávamos) frente a todos.
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            O vice-reitor um tanto quanto restrito só tinha a máxima “não sei” para nos responder e dizia se comprometer a levar a nossa causa para instâncias superiores, porém sem dispor-se a assinar um termo. Após ficarmos sem nenhuma resposta satisfatória dos sete pontos citados acima, além de outras propostas que surgiram por parte dos alunos, sugerimos que a nossa proposta fosse melhor analisada e aguardaríamos uma contra-proposta até às 17h. Nesse momento foi tomada a decisão de seguir as atividades “normalmente” do EREM nos corredores da reitoria da UFCSPA.
            Nesse momento nosso horário de 13h30min, já havia sido ultrapassado e estávamos por volta das 14h. Nos corredores da UFCSPA tivemos a nossa palestra sobre a greve dos residentes com o Gustavo Arruda Passos Freire de Barros sobre a mão de obra barata dos médicos- residentes, a necessidade do auxílio-moradia, alimentação e outros direitos do trabalhador, como 13.º, férias e licença-maternidade. Por exemplo, os residentes não são incluídos nem na classe de estudantes nem da de trabalhadores (afinal não possuem os direitos trabalhistas), mas pagam os impostos trabalhistas. Em meio ao seu discurso Gustavo rememorou seu tempo de participante do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) da Universidade de São Paulo (USP) que teve sua sede (se não me engano) no ano de 1997 incendiada criminosamente e depois ficou fechado até o ano 2000, quando foi concretado com a desculpa de realizar obras. Na época do novo milênio especulava-se que a sede do CAOC fosse virar laboratórios de professores, fato que moveu os alunos – o Gustavo no seu primeiro ano de faculdade – a pegar “marretas e picaretas” e reconquistar o CAOC.
            Nesse contexto, percebo que o nosso espaço estudantil esta cada vez menor, nossa voz está cada vez “mais baixa”, inclusive aqui na FURG o nosso Diretório Acadêmico Francisco Martim Bastos (DAFB) possui também poucos metros quadrados para nos articularmos e organizarmos.
            Ainda na palestra o palestrante tocou no assunto que muitas pessoas perguntavam a ele “porque está lutando por essa greve, se logo terminaria a residência e não desfrutaria nada ou muito pouco das possíveis conquistas?”. Não com uma resposta muito diferente da nossa, ele insistia que as mudanças eram para todos e a conquista entra em um contexto muito maior, inclusive a solidariedade entre os colegas.
            (Só um parênteses: no código de ética médica está escrito no artigo 15° do capítulo dois as seguintes palavras: “deve  o  médico  ser  solidário  com  os  movimentos  de  defesa  da  dignidade  profissional,  seja  por remuneração  condigna,  seja  por  condições  de  trabalho  compatíveis  com  o  exercício  ético-profissional  da Medicina e seu aprimoramento técnico” – perdoem-me as pessoas que não são estudantes da medicina, mas pareceu-me viável trazer estes questionamento da minha futura profissão, não tão distante, também, da necessidade da nossa solidariedade com os nossos colegas estudantes e futuros colegas de profissão).
            Enquanto o EREM seguia as lideranças reuniam-se para organizar a manifestação e conseguir algo para comer e beber. Após terminar a palestra ficamos esperando chegar a hora da contra-proposta e nesse meio tempo outros alunos foram chegando inclusive de cursos como: jornalismo, publicidade e propaganda, comunicação (perdoem-me se esquecer de algo, mas nem sempre consegue-se abranger tudo) enfim, para nos ajudar. Também recebemos a visita dos participantes do Encontro Nacional do Movimento da Luta Antimanicomial (ENEAMA) e eles explicaram sobre o movimento antimanicomial e nos ajudaram a passar o tempo, houve na verdade uma troca de informações nos com o EREM e eles com o movimento. Enquanto os participantes do ENEAMA conversavam com nós chegou a comida e a bebida, naquele momento de solidariedade todos dividiram bananas, bolachas e água para a nossa alimentação (devo dizer que na hora a fome era grande) e estávamos perto das 17h – prazo para a entrega da contra-proposta da reitoria. 
            O vice-reitor havia saído da universidade por volta das 15h e nos deixou na vagueza e silêncio da reitoria. Entre as 17-18h o pessoal começou a se reunir para abrirmos uma discussão deu tempo de eu ir pela primeira vez no banheiro naquela tarde e na hora tive a ideia de (guiada por estudantes da UFCSPA) descer até uma pequena lanchonete (acho que a única área de recreação acadêmica dos estudantes) e comprar alguns salgados e várias bolachas (alimento para nossa reunião), minha colega ajudou com os custos e cerca de 5 minutos depois a lanchonete foi fechada por “ordem superior”. 
            Ás 18h estávamos todos reunidos para decidir pela ocupação ou não da reitoria (leia-se ocupação=dormir na reitoria). Cada DA/CA’s teve a oportunidade de reunir com os seus alunos e deliberar sobre a decisão, se não me engano eram 7 universidades diferentes. Alguns alunos voltaram, mas a grande maioria cerca de 70 alunos optaram por ficar, nós os três mosqueteiros do primeiro ano, não pudemos ficar – estávamos hospedados na casa de família do meu colega e não poderíamos seguir na ocupação, mesmo o sentimento sendo outro. 
            Depois da decisão majoritária foi decidido formar comissões (de segurança, alimentação, agitação e comunicação, entre outras) que se articulariam para auxiliar a todos e definir objetivos claros para a manifestação. Foi proposta desde a saída e esvaziamento do prédio pela manhã seguinte com um ato na hora da saída até a invasão da capela da UFCSPA para estabelecer o CAXXII de março – para uma universidade leiga a religião tinha mais espaço que os estudantes. Existia, também, o medo de que talvez o movimento terminasse porque os alunos do EREM que estavam em maioria no momento fossem embora faltasse força para a luta, as decisões ficaram nebulosas e o CAXXII de março teve autonomia para tomar a sua decisão em separado, enquanto as comissões se articulavam.


            Após ajudar no que podíamos, teríamos que voltar para casa. Cumprimentamos nossos companheiros e nos dispomos a ajuda e apoio caso necessário. Saímos da UFCSPA  incendiados e com um silêncio de luto por estarmos nos retirando.
            Naquela noite, quando deitei na cama não conseguia dormir, o cansaço ainda não havia me ganhado. Levantei-me e decidi através da internet começar a distribuir as notícias sobre a manifestação (Orkut, twitter, comentário em matérias e conversando com amigos meus) além de ficar em contanto com quem estava na comunicação pedindo para postarem vídeos e fotos da manifestação. Fiquei madrugada adentro distribuindo e espalhando o fervor do meu peito. A maioria dos alunos da FURG teve que partir no dia 7 À tarde de volta para Rio Grande, com certeza, mudados pela manifestação.
            Porém, a manifestação ainda não havia terminado, fizemos praticamente uma reunião do DAFB dentro do ônibus e mesmo depois de noites mal dormidas. Um dos nossos colegas ficou na reitoria e nos manteve informados do que estava acontecendo. Voltei com o peito em chamas e na certeza que os ecos da nossa presença ficaram na reitoria. Acompanhando de longe vimos os alunos da UFCSPA escutarem a nossa luta e aproximarem-se do movimento, aliás os alunos da UFRGS e outras universidades escutaram-nos. 
            Quinta-feira (dia 9) lemos um e-mail do nosso colega do sexto ano Pedro Salomão Dias que estava presente na manifestação, com os seguintes dizeres:
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Porto Alegre, 08 de setembro de 2010 - Sede provisória do Centro Acadêmico XXII de março, ex-reitoria da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
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Caros colegas,
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Escrevo estas palavras para informar-lhes que a reitoria da UFCSPA está ocupada desde o dia 6 de setembro. A nossa pauta, entre outros pontos, exige que a reitoria ceda um local para a sede do CA XXII de março, que está sem espaço físico para suas atividades desde janeiro deste ano, quando a reitoria promoveu a demolição da antiga sede sem explicações convincentes e sem fornecer um novo local adequado para seu funcionamento. 
Os estudantes que promoveram a ocupação estavam participando do XV EREM - Encontro Regional dos Estudantes de Medicina - quando após relato do que acontecia aqui na UFCSPA por um de seus diretores, organizaram uma marcha em protesto do Hospital de Clínicas até a reitoria da UFCSPA. O movimento tomou corpo e após a reitoria dialogar insuficientemente com os estudantes, a decisao da ocupação foi tomada. Vale ressaltar que em todos os momentos o movimento foi democrático, dando voz a todos os estudantes e entidades presentes. Em torno de 70 pessoas ocuparam a reitoria na noite do dia 6, permanecendo pelo feriado de independencia em numero um pouco menor, já que a maioria dos estudantes necessitava retornar para suas cidades. 
Em menor numero, mas nao com menos força. A cada momento, estudantes da UFRGS e UFCSPA, recebem mais e mais moções de apoio ao movimento. A certeza de que estamos lutando por algo verdadeiro nos faz esquecer o cansaço e a falta de conforto. A nossa organização é invejável e em nenhum momento usamos armas que não nossas ideias. Estamos bem instalados, e tendo como unico problema a falta de dialogo com a reitoria. Hoje pela manhã, estamos esperando um encontro com a reitoria na sede provisoria do CA e esperamos que consigamos dar fim a ocupação, que só acontecerá mediante a assinatura de um termo de compromisso com as exigencias do movimento.
Amigos, desculpem as palavras cansadas, o texto sem cor, diferente do sentimento que queima no meu peito e no de nossos colegas aqui acampados. Nossa causa é legítima, legal, moral e verdadeira. Lutamos por um direito conquistado. O direito de se organizar politicamente, de discutir, de refletir acerca dos problemas do nosso país dentro da universidade e criar maneiras de transformar a realidade do nosso país e mundo. 
O que está acontecendo é historico para o movimento estudantil. O epicentro de muitas ações que hão de vir em breve. Nao podemos fechar os olhos para isso. Nao podemos permitir que calem as vozes dos estudantes desse país. Como universitarios, estudantes, cidadãos, devemos repensar o que tem se passado dentro da nossa instituição e nos envolvermos, ao menos reflexivamente, nessas discussões.
Nós, estudantes, devemos nos aproximar dos nossos DAs e CAs afim de termos base politica para entendermos os porques das muitas coisas que percebemos de erradas na nossa instituição. O movimento ta aí pra ser criado por nós.
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Na certeza da vitoria, um abraço.
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Pedro Salomão Dias
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            Escrevemos nossa moção de apoio e muitos se necessário cogitavam a possibilidade de voltar. Felizmente ontem (dia 9) pela tarde os alunos conseguiram chegar em um acordo. Saímos todos de cabeça erguida sentindo o poder do movimento estudantil e a nossa capacidade de unidos mudar. Alcançamos nossos objetivos e até mais e com a nossa luta construímos novas ideias, nosso entusiasmo e nosso entendimento. 
            À medida que levantou-se as questões do CAXXII surgiram outras lacunas estudantis inclusive por parte dos seguranças que trabalhavam nos cuidados do prédio da reitoria. Saindo da esfera dos estudantes, os seguranças mostraram a situação incoerente de trabalho noturno que não era permitido fazer refeições durante a noite sob punição (o controle é feito através de câmeras de vídeo), e escreveram uma moção de apoio aos estudantes que ocuparam a reitoria. Essa é a questão no movimento estudantil, antes de falarem que ele é banalizado ou de vândalos, certamente seremos o profissional amanhã e o que acontece dentro da universidade está diretamente ligado com o que acontece fora. 
            Justamente, os alunos expandiram as suas pautas e exigiram para a desocupação da reitoria: 
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1. Como medida emergencial, disponibilizar espaço imediato para funcionamento administrativo das organizações estudantis, que poderá ser usado por todos os Centros Acadêmicos da UFCSPA. O local deve ter capacidade para a realização de reuniões, com autonomia de horário e controle do espaço por parte dos estudantes, com localização necessariamente dentro do campus central e de fácil acesso, de no mínimo 50m2. Prazo: imediatamente após a desocupação da Reitoria.
2. Disponibilizar espaço de convivência para todos os estudantes da UFCSPA, com metragem adequada, cerca de 100m2, para propiciar boa integração entre os acadêmicos.
3. Disponibilizar por escrito o local exato das futuras instalações definitivas do CA XXII de Março, assegurando área mínima igual à metragem da antiga sede. Prazo: 10 dias após a desocupação da Reitoria.
4. Admitir publicamente que não houve negociação sobre o fato da demolição da antiga sede do CA XXII de Março e do espaço de convivência que era localizado no mesmo prédio. Prazo: imediatamente após a desocupação da Reitoria.
5. Disponibilizar a planta baixa das construções do anexo lI e III que estão em andamento no campus central, bem como garantir espaço de diálogo onde os estudantes possam manifestar suas necessidades e opiniões quanto ao planejamento da utilização dos espaços físicos da UFCSPA. Prazo: 10 dias após a desocupação da Reitoria.
6. Disponibilizar a planta baixa do anexo l, parcialmente destruído no mês de janeiro de 2010, onde existia a antiga sede do CA XXII de Março e o espaço de convivência. Prazo: 10 dias após a desocupação da Reitoria.
7. Não haver punição a nenhum estudante ou funcionário (da UFCSPA ou terceirizado) presentes nas manifestações realizadas pelo CA XXII de Março, conforme consta na Legislação Brasileira.
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Outras Pautas
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Realizar e apresentar à comunidade acadêmica para discussão estudo de viabilidade de implantação de Restaurante Universitário. Prazo: 75 dias após a desocupação da Reitoria.
Realizar e apresentar à comunidade acadêmica para discussão estudo de viabilidade de implantação de Moradia Estudantil. Prazo: 75 dias após a desocupação da Reitoria.


            O protesto terminou após garantia da reitoria de instalação de espaços para os centros acadêmicos dos cursos da faculdade no novo prédio que está sendo construído e das outras pautas serem atendidas. castelo da reitoria foi desocupado sem nenhuma perda (física), mas certamente modificado.
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      Hoje, pela manhã (dia 10), reencontrei o nosso colega do sexto ano na Unidade Básica de Saúde da Família e nos abraçamos na pequena comemoração e falamos em uníssono “CONSEGUIMOS”. Na certeza que o movimento continue a ecoar e que a chama do meu peito não se torne uma faísca.

Mayara Floss
(www.entre-primos.blogspot.com)

Rio Grande, dez de setembro de 2010.


“Se nos perguntassem se estávamos cansados (mesmo com as olheiras afundando nosso rosto), certamente não, diríamos que não – a nossa luta era (é) maior”. 
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Um comentário:

  1. Empolgante, é a palavra que define a ação de vocês. Em época de marasmo, em que ninguém se mexe para nada, uma atitude destas do movimento estudantil faz a gente perceber que ainda temos muito porque lutar.

    PArabéns aos nossos estudantes de medicina!

    Mário San Segundo

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