terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pesquisas na FURG comprovam benefício de células progenitoras na regeneração muscular


A infusão de células progenitoras adultas foi utilizada no tratamento de músculo esquelético submetido à isquemia em modelo experimental

Duas dissertações de servidoras da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Instituição apresentam resultados favoráveis para a técnica que utiliza células retiradas do próprio organismo na recuperação de lesões, as chamadas células progenitoras. O experimento utiliza células adultas e não embrionárias.

As irmãs e médicas técnicas-administrativas em Educação Andréia Dias Almeida de Miranda e Fernanda Dias Almeida realizaram a pesquisa na linha de Preservação de Órgãos, sob orientação da professora Drª. Susi Lauz, do Laboratório de Morfologia Experimental, nas áreas de isquemia (interrupção na irrigação sanguínea) e reperfusão de órgãos (revascularização do tecido comprometido). A linha de pesquisa existe desde 2003 na FURG, quando foi cadastrada pela orientadora junto ao CNPq.

Os resultados obtidos representam a possibilidade de aplicação da técnica em benefício da comunidade, uma vez que a isquemia é um dos problemas de saúde mais comuns. São exemplos de quadros isquêmicos: infartos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais ou lesões provocadas por agentes externos, como as que ocorrem nos traumatismos (ocasionados principalmente em acidentes de trânsito). Nesse último caso, as sequelas podem ser deformidades, amputações e ou inviabilização de membros. “A lesão de isquemia e reperfusão pode ocorrer em qualquer tipo de trauma e, proporcionalmente a grandes centros do país, o número de casos em Rio Grande é muito alto”, destaca a orientadora sobre a importância das dissertações no contexto social.

As pesquisas consumiram dois anos e meio de trabalho e seguiram metodologia própria, desenvolvida pelas pesquisadoras. O experimento foi realizado em ratos, com a coleta de células progenitoras adultas a partir do sangue periférico do animal. Primeiro, explicam as pesquisadoras, essas células, presentes na medula, foram mobilizadas para o sangue por meio de medicamentos. Após coletadas, foram refrigeradas para posterior utilização.

Em seguida, as pesquisadoras induziram a isquemia no músculo (chamado grácil) da coxa direita do animal, isolando a artéria femoral com o uso de microclampe vascular (espécie de grampo utilizado em microcirurgias). O isolamento durou até quatro horas, quando o microclampe foi retirado dando início à reperfusão e as células progenitoras foram imediatamente injetadas no músculo grácil exposto. Depois do procedimento cirúrgico, os animais ficaram em observação por uma semana. Após esse período, foi realizada a biópsia do músculo grácil e o material foi encaminhado, para análise, ao Centro Integrado de Patologia (CIP) de Rio Grande e ao Laboratório Patologistas Reunidos, em Porto Alegre.

Os experimentos, que seguiram os padrões internacionais da experimentação em animais, incluíram um grupo controle, que não recebeu as células progenitoras. O experimento de Fernanda dividiu o grupo de animais que recebeu as células progenitoras em dois: um com isquemia de duas horas e outro de quatro horas. Enquanto a hematologista Andréia trabalhou os aspectos morfológicos, a neurologista Fernanda primou pelos funcionais.

Andréia fez três tipos de análise no músculo, no qual foi realizada a biópsia: por microscopia óptica (visualização das alterações musculares através do microscópio óptico), por imunohistoquímica (exame que serve para identificar a presença dos vasos, através de metodologia adequada) e por histomorfometria computadorizada (exame que serve para quantificar o número de vasos na área em estudo). Na área do músculo que sofreu isquemia e recebeu as células progenitoras, encontrou-se um aumento da vascularização e do número dessas células. “Identificou-se um maior número de vasos na área. As células progenitoras podem ter dado origem a esses vasos, favorecendo a regeneração do tecido lesado”, explica a hematologista.

Fernanda observou que quanto maior o tempo de isolamento da artéria femoral, maior a lesão e, por conseqüência, melhor resposta ao tratamento com células progenitoras. “No grupo de quatro horas, houve melhora funcional importante”, diz. Ela realizou nesse grupo experimental o exame de eletromiografia, disponível em Rio Grande no sistema particular de saúde e que, além da extensão da lesão, sugere o diagnóstico e o prognóstico do paciente. A partir da observação, a pesquisadora criou uma escala de miopatia, comprovada por eletromiografia.

A escala, pela primeira vez na literatura da área, diferencia as lesões com relação ao grau em miopatia severa, moderada, leve e padrão normal. A partir da escala, Fernanda comparou o estado das lesões antes e depois da infusão de células progenitoras: as miopatias severas e moderadas observadas no grupo de quatro horas com a isquemia e reperfusão, passados sete dias após a infusão das células progenitoras, apresentaram-se como leve e padrão normal.

Para a aplicabilidade real dos resultados, pesquisadoras e a orientadora esperam que os estudos chamem a atenção para a necessidade de investimentos na estruturação de serviços especializados e multidisciplinares em Medicina Regenerativa em Rio Grande.

As dissertações “Avaliação do uso de células progenitoras mobilizadas na lesão de isquemia e reperfusão de músculo esquelético de rato”, de Andréia, e “A eletromiografia como instrumento de avaliação neurofisiológica de músculo esquelético submetido à isquemia e reperfusão em ratos tratados com infusão de células progenitoras”, de Fernanda, foram defendidas no dia 15 de outubro e aprovadas com louvor pelas bancas examinadoras. Essas bancas foram compostas, respectivamente, pelos doutores Lulie Susin, Carlos Scaini (ambos da FURG) e Liane Esteves Daudt (chefe do Serviço de Hematologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre); e Lulie Susin, Sandra Brandão (FURG) e Liselotte Barea (chefe do Serviço de Neurologia da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre). Os trabalhos foram apresentados no 10º Congresso Internacional de Microcirurgia em São Paulo, de 28 de outubro a 01 de novembro.

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